Recalculando a Rota
Tem que ter coragem para ver o mundo desabando e dar mais
um passo a frente, de cabeça erguida e olhos adiante. Tem que ter peito para
ver o que você mais ama acabar e sorrir, dar um abraço e dizer “Até quem sabe
um dia”. Quem ama nem sempre encara o “quem sabe um dia”. Quem ama quer tudo
agora, braços e abraços, boca e sorriso, amor e seus sinônimos.
É preciso ter coragem para seguir caminhando quando o que
se via a frente era simplesmente nós e o que se vê agora é somente eu. Dói e dá
medo admitir que algumas situações são incontornáveis. Na verdade, a vida é
incontornável.
A gente toma novos rumos, tenta encontrar atalhos que nos
levem ao lugar onde tudo terminou. Mas não encontra. Os lugares mudam, os
sentimentos mudam. A gente também muda, e muito.
É bonito ver quem se arrisca, quem mete a cara nas
situações mais imprevisíveis e sai ileso, sem ferimentos no corpo e no coração.
Mas nem sempre é assim. É perturbador seguir sozinho. Repensar todos os planos
que antes tinham lugar pra dois, reavaliar todos os sonhos que cabiam em duas
nuvens. Tudo volta a ser só um e essa singularidade pode ser sombria se você
não souber recalcular a rota.
Pois é devagar que os passos à frente passam a não ser
tão dolorosos, e o que ficou para trás deixa de ser ferida para ser apenas
vulto. Os planos se ajustam e os sonhos permanecem, só que em nuvens que cabem
apenas um, você e mais ninguém.
As decepções nos obrigam a ser egoístas, a pensar na
gente um pouquinho mais, a se doar menos e se poupar mais. Só quem já perdeu o
chão sabe e entenderá a dor de flutuar sobre o nada e ver sonhos e planos
evaporarem para até quem sabe “um dia qualquer”.
Não há tempo para esperar dias que provavelmente não
virão. É preciso recalcular a rota, recalcular a vida e o coração.